Uma Viagem pela Patagônia Argentina de Carro.
Subtle voices in the wind. Hear the truth they’re telling. A world begins where the road ends.
Far Behind, Eddie Vedder
Esse post relata minha viagem de férias em Janeiro de 2022 à Patagônia argentina com minha namorada.
Como toda boa viagem, essa começou com um sonho, uma ideia, um conceito. E o conceito que nos rondava era aventura e imersão. Aventura que nos levássemos longe de carro, e imersão que nos permitisse adentrar gradualmente uma mesma cultura e localidade.
Para quem sai de Floripa, descer ao sul parece um caminho óbvio a seguir; e depois de pesquisar um pouco sobre a Patagônia, não precisávamos de mais para nos convencer que essa região era a certa. O que?! Nadar com lobos-marinhos?! Andar lado a lado de pinguins?! Visitar geleiras?! E de quebra, ter uma abundância de ofertas de boa carne e vinhos?! Tô dentro! Pois bem, esses foram os apelos que nos fizeram percorrer longínquos 11 mil km (ou 10.920 km pra quem gosta de precisão).
Depois de muitas horas de vídeos no youtube e leituras de blogs, decidimos pelo roteiro: Florianópolis - Puerto Madryn - El Calafate - El Chaltén - Bariloche - Buenos Aires - Florianópolis. A decisão mais difícil foi cortar Ushuaia do destino, mas dado à época as restrições de combate ao Covid, a dupla transição de fronteiras Argentina-Chile-Argentina para chegar lá, e as incertezas das informações, nós decidimos não tomar esse risco adicional. Ademais, curtir o que já era certo por si só já demandaria bastante tempo. A ida da viagem começaria pela ruta 3 na Argentina, e a volta pela ruta 40. Aguardávamos ansiosos pelos bichos de Puerto Madryn, pelas geleiras de El Calafate, pela natureza esplêndida (Brasil?) de El Chaltén, os lagos bosqueados de Bariloche, e os cafés charmosos de Buenos Aires.
Um contexto da viagem foi - para o infortúnio de nossos hermanos, mas conveniente à turistada - a crise inflacionária do país nos últimos anos. Tudo custava cifras altas em centenas e milhares de pesos. Almoço? 800 pesos. Hospedagem? 7000 pesos; e por aí vai. E culturalmente eles fazem tudo com effectivo (isto é, dinheiro vivo, cash, bufunfa, faz-me rir). Portanto, prepare-se para andar com uma mala de dinheiro onde você for. Abaixo, muita ostentação rsrs; e um prato típico: chorizo con papas fritas. Detalhe, na nossa viagem, o câmbio foi de 37 pesos para 1 real usando a Western Union (WU).
Parte 1 - Dia 1 a 3 - Pé na estrada - De Florianópolis a Puerto Madryn.
Nossa primeira parada para efetivamente começarmos a curtir algo seria em Puerto Madryn, que estava a 3.026 km de casa e exigiria pelo menos 3 dias de viagens. No primeiro dia, saindo de Florianópolis, dormimos em Uruguaiana, cidade fronteiriça com a Argentina. No dia 2, saímos às 9 horas devido ao horário de abertura da Aduana para atravessarmos a fronteira.
Bom, Uruguaiana, do lado do RS, é uma cidade bem arrumada, de médio porte, mas do outro não posso dizer o mesmo. Tomamos um choque quando atravessamos a fronteira para Paso de Los Libre, onde nos deparamos com um cenário quase de velho oeste entregue à poeira e ao vazio. Contudo, conseguimos trocar nosso dinheiro em uma unidade da WU, e já íamos comprar um chip da Claro argentina se a loja não estivesse em recesso. Deixamos então o chip mais pra frente e fomos seguindo estrada em direção à Buenos Aires, onde nos deparamos com uma realidade bem diferente da brasileira em que não havia cidades nas margens da rodovia. Levamos algumas centenas de quilômetros para perceber (lembre, estávamos modo old school, sem internet) que era preciso adentrar em estradas transversais à rodovia e percorre uns 10 km, por exemplo, para chegarmos às cidades do caminho. E, finalmente, conseguimos comprar um chip em Entre Rios.
No dia 2, notamos duas grandes diferenças entre Argentina e Brasil. A primeira, Argentina é um deserto; fazendo um paralelo sobre a densidade da mata, a Amazônia deles são os nossos Pampas (literalmente), e, conforme, avançamos sentido sul, mais a vegetação rareia. Logo, as estradas argentinas são simplesmente retas entre o ponto A e o ponto B, que não se restringem a acidentes geográficos comuns no Brasil; cenário perfeito para fazer viagem longa e manter uma média de velocidade alta. A segunda diferença é a famosa siesta, que é real e onipresente em toda a Argentina, fato que nos impediu de comprar nosso chip da Claro no meio da tarde. Muitos estabelecimentos fecham depois do almoço às 14h, e retornam só depois das 16h pelo menos, muitos só depois das 17h, 18h.
Dia 2 dormimos na região da grande Buenos Aires, em Luján. Dia 3, ainda um dia de pura estrada, dormimos em General Conesa. Até que dia 4 chegamos à almejada cidade de Puerto Madryn, já oficialmente dentro da Patagônia.
Parte 2 - Dia 4 a 7 - A Patagônia dos bichos - Puerto Madryn, Península Valdés, Punta Tombo
Apesar de nos direcionarmos ao gelo rsrs. Pegamos uma deliciosa semana de verão em Puerto Madryn, que na verdade é uma cidade praieira. No dia 4, aproveitamos para nos estabelecer, descansar, e aproveitar a praia dos argentinos.
Dia 5, mergulhamos com os lobos-marinhos, que são o mesmo que leões-marinhos. Os argentinos nos explicaram que a duplicidade de nomes é devido aos ingleses chamarem essa espécie de sea lions, enquanto os espanhóis já os apelidavam de lobos marinos. Para o mergulho, fomos de lancha até a uma praia isolada que era a casa dos bichos. Na praia, tem uma dezena de machos, e umas centenas de fêmeas. Os machos têm verdadeiros haréns. Eles também são bem maiores que as fêmeas. As fêmeas realmente se assemelham a cachorros, são dóceis, e até interagem com você no mar. Já os machos são hostis e ficam pela areia mesmo; acredite, você não vai querer cruzar a frente deles. Como a região é uma reserva biológica, não pode-se pisar na praia e nem no fundo do mar, todo o evento acontece somente na água em frente à praia.
No dia 6, partimos pra península Valdés, que é uma área enorme. Tem uns 6 ou mais pontos de visitação, e eles são longe entre si, o deslocamento entre eles leva meia-hora ou mais. Então, separe o dia inteiro para isso. Na península, vimos guanacos em quantidade infinita rsrs, ovelhas, flamingos, elefantes marinhos, uma colônia de pinguins, e também há uma ilha inteira ocupada por pássaros que pode ser observada com binóculos. Infelizmente, nessa época não é possível avistar baleias.
A península tem o cenário de um grande deserto com um mar de cor azul-marinho fenomenal a costeando. Há também salinas lá. Fomos na salina chica, super-recomendamos conhecê-la. Não sei porque as salinas não são muito divulgadas entre as atrações, mas foi um dos pontos que mais gostamos da península.
Da península, seguimos até Trelew, onde paramos para dormir. O dia seguinte (dia 7) fomos para a maior colônia de pinguins de magalhães do mundo! Ela fica em Punta Tombo e conta com mais de 250 mil casais de pinguins.
No fim do dia, partimos para Comodoro Rivadavia. Foi bastante difícil encontrar quarto de hotel disponível. Ficamos 1 hora no telefone até conseguirmos algo, sem exageros. Era quase meia-noite quando repousamos. Comodoro e Trelew são cidades industriais com empresas petrolíferas. São um dos poucos pontos com grande densidade populacional na Patagônia.
Os passeios dos bichos com certeza foi um dos pontos altos da aventura, mais que recomendado para quem puder ir. Muitos optam por viajar pela ruta 40 por conta dos lagos, mas nossa experiência nos mostrou que a ruta 3 foi até mais legal, principalmente por conta dos bichos.
Parte 3 - Dia 8 a 14 - A terra sem verão - El Calafate
Dia 8, tínhamos 1.022 km pela frente para chegarmos no nosso ponto mais distante da viagem, El Calafate, a 4483 km de casa. O dia foi na estrada, chegamos ao destino às 20 horas. A vantagem de viajar nessa região no verão são as longas durações dos dias. Nessa época, o sol se punha quase às 22h00 em El Calafate.
A rota de Comodoro para El Calafate vai até quase o final da ruta 3 (sentido norte-sul), próximo a Rio Gallegos, onde se faz a curva para iniciar a ruta 40 (sentido sul-norte). Na ruta 40 já avista-se a cordilheira dos Andes à esquerda, e também percebe-se o aumento da vegetação na paisagem. O Chile está logo ali do outro lado da cordilheira.
No dia seguinte (dia 9) foi focado em achar um lugar pra nos estabelecer por uma semana, visitarmos a cidade, acertamos os passeios com as agências, e provarmos o risoto patagônico (com carne de cordeiro).
Dia 10 foi o grande dia do Big Ice , a geleira de Perito Moreno. Às vezes, as fotos não transparecem o real tamanho das coisas. As geleiras são enormes, elas têm paredes com mais 70 metros de altura, e isto é só 10% dela; os outros 90% estão submersos. Foi uma daqueles experiẽncia de sentir-se por trás dos bastidores do National Geographic, simplesmente deslumbrante.
No dia seguinte (dia 11), demos uma volta na orla em torno do lago Argentino de bike; é uma passeio simples mas muito gostoso, recomendo. No fim da tarde, visitamos a estância 25 de Mayo; esse é um dos passeios clássicos de El Calafate e superou demasiadamente nossas expectativas. A guia foi uma das argentinas mais simpáticas de toda a viagem (o que não são muitos rsrs); ela nos conta sobre a fundação da cidade, que era um entreposto para os “tropeiros” que levavam a pelagem de ovelha até o porto de San Julian. Isso não faz muito tempo, foi no início do século XX, momento em que a Argentina adotou políticas estratégicas de povoamento da Patagônia, loteando toda a terra em estâncias de 20 mil hectares! Isso é enorme, para lhe dar uma ideia, é similar a um quadrado de dimensões de 45 por 45 km. Depois ela nos apresenta parte da fazenda como uma milagrosa horta no meio do deserto e também o trabalho de um gaúcho cortando a pelagem da ovelha com tesouras. No final do passeio é servido um jantar com direito à apresentação da música local (extremamente dramática no bom sentido). Tudo de excelente gosto!
No outro dia (dia 12), fizemos uma cavalgada pela manhã, que apesar de estarmos no ápice do verão, fomos pegos por um vento frio, intenso, e constante. Os termômetros marcavam 3°C. Pela tarde, para preencher o dia, fomos a uma atração pouco falada, mas que nos surpreendeu positivamente, o Centro de Interpretación Historica de Calafate. Ele conta um pouco da história da colonização da região e dos povos originários, além de réplicas de fósseis de dinossauros.
Dia 13, tentamos fazer um passeio de caiaque no rio Leona. Esse passeio tem um primeiro trecho de caiaque, seguindo por uma caminhada guiada de 2 horas em uma região geologicamente antiga, com mais um último trecho de caiaque na parte final. Pois bem, não imaginam o quanto eu estava animado pra esse programa. Pegamos a van cedo às 7h que nos leva até a o ponto de partida, contudo, chegando lá, o tempo ia de mal a pior, com chuvisco e vento forte, a temperatura registrava 2°C; foi de longe o pior tempo que vivenciamos em El Calafate. O passeio teve que ser cancelado. Pra não desperdiçar tudo, o guia nos levou para uma volta de uma hora na montanha do lado da ponto de partida antes de regressarmos na van de volta à El Calafate.
À tarde, fomos ao museu de gelo, Glaciarium. Digamos, não é um museu tão divertido, mas valeu pra passar o tempo. Ele tem uma excelente vista do lago Argentino. O museu faz uma exposição sobre a geleira Perito Moreta e também conta um pouco da história do próprio Perito Moreno, que foi o cara! Ele ajudou a mapear a região, e também atuou nos imbróglios políticos fronteiriços entre a Argentina e o Chile.
No último dia de El Calafate (dia 14), fomos à reserva da laguna Nimez, que é um observatório natural de pássaros. A reserva garante um passeio em um campo florido charmoso por duas horas, se você não tiver pressa; mas pássaro que é bom, nada. No final da noite, visitamos o bar oficial da cerveza Patagônia.
Parte 4 - Dia 15 a 16 - A capital argentina de trekking - El Chaltén
Ainda parte do município de El Calafate, mas afastado por 210 km, encontra-se a vila de El Chaltén. A cidade conhecida como a capital nacional do trekking, não recebe esse nome em vão; sua parte “urbana” se configura em 2 quarteirões cercados por áreas de campings e aventureiros com mochilas bagageiras por todo o lado. O lugar é bonito de tirar o fôlego, não que antes nas outras cidades não tenha sido assim, mas durante o percurso de El Calafate para lá, você já percebe que está adentrando em um recanto especial. Na minha opinião, de todos os cenários espetaculares que vimos na viagem, El Chaltén foi o mais deslumbrante.
Não fizemos nenhuma reserva de antecedência, assim como na viagem inteira. Então, dia 15 ao chegarmos lá, fomos atrás de uma área de camping mais arrumadinha. Os argentinos têm um hábito bem diferente de nós em relação ao camping. Eles não separam o estacionamento da área das barracas, mas sim estacionam ao lado da barraca. O que com certeza ajuda na logística, mas atrapalha na hora de dormir, já que o movimento não para. Ficamos no camping El Relincho, que nos presenteava com um riacho a sua margem.
Dia seguinte (dia 16) era meu grande dia, a ida até à base do Fitz Roy. São 21 km de percurso total, ida e volta. Maior parte da trilha é plano, havendo somente uma maior elevação na primeira meia-hora e no final, onde é o grande desafio e acontece a penitência rsrs. A parte final tem uma elevação de uns 500 metros, um pouco íngreme, no chão seco, cheio de pedregulhos soltos, e sem arrego. Levei 4 horas no trajeto da ida; a volta foi um pouco mais rápida. Essa é a principal trilha de El Chaltén, então tem muita, mas muita, muita gente fazendo-a. Além do mais, no percurso há duas áreas de camping públicas para quem deseja encurtar o caminho no dia trilha.
O Fitz Roy é a pedra mais proeminente da paisagem, na sua base onde termina a trilha, existe uma laguna enorme. Na foto, ela até parece pequena, mas não se engane, quando cheguei lá haviam umas 300 pessoas em torno dela. A laguna se forma pelo degelo da montanha e é chamada de los Tres. Los Tres de quê eu não descobri rsrs. Fiquei algumas horas por lá “largateando”" na pedra, sentindo aquela atmosfera. Mais à frente do lado esquerdo tem uma segunda laguna em que o acesso é mais restrito.
Nossa estadia em El Chaltén foi curta infelizmente. Não faltariam atividades para uma semana bem recheada por lá.
Parte 5 - Dia 17 a 21 - A região dos sete lagos - Bariloche
Saímos de El Chaltén no dia 17, foi um dia de estrada, 1.250 km até alcançarmos a cidade de Esquel. A paisagem se alterou bastante durante a rota, abandonando a típica aridez da Patagônia e aparecendo montanhas cheias de pinheiros. À noite, passamos um perrengue em Esquel. Se era de praxe suar um poquito pra conseguir hotéis, já que navegamos sem reservas, a região dos sete lagos iria para outro patamar. Chegamos em Esquel por volta das 22h, e ficamos 1h30 atrás de qualquer quarto disponível, mas simplesmente não havia uma só vaga na cidade. Felizmente, ao fim de tudo, fomos acolhidos por um camping (que também estava lotado), montamos nossa barraca depois da meia-noite.
Diria que El Calafate é uma cidade turística e tinha uma alta movimentação até, afinal, Janeiro é verão e alta-temporada pra eles . Mas Bariloche e região (Esquel, Villa La Angostura, e San Martin de Los Andes), que são mais próximas de Buenos Aires, estavam simplesmente entupidas; e o preço da hospedagem nas alturas. Se, em El Calafate, tínhamos opções usualmente entre 180 a 300 reais por hospedagem, na região dos sete lagos, os preços começavam pelo menos em 350 a 400 reais. No primeiro dia, nos hospedamos em um hotel muito simples (devia ser 2 estrelas) por 400 reais!
Aqui vou começar uma polêmica. Durante o planejamento da viagem, percebi uma preferência pela ida à Patagônia pela ruta 40 (Pacífico/Andes) e a volta pela ruta 3 (Atlântico), que é a mais curta; escolha normalmente justificada pela região dos lagos, que sim, são esplêndidos, mas lhe acompanham somente por uns 200 km de percurso. Nós que fizemos o inverso (ida pela ruta 3 e volta pela 40), no fim, preferimos as coisas da ruta 3 como a Patagônia dos bichos e a sua margem para o mar do Atlântico. Acho que depois de El Calafate e El Chaltén, nossos olhos já estavam viciados com tamanhas belezas e não nos surpreendemos tanto com Bariloche e região. Além disso, a cidade de Bariloche não nos cativou tanto, logo na sua entrada vimos bastante sujeira e pichação, o que não combinava com a nossa ideia prévia de lá. Suas atrações são bonitos até, mas creio que seu grande diferencial no verão seja engajar em atividades diretamente ligada aos lagos, como kayak, vela, e outros.
Voltando aos relatos, no dia da chegada (dia 18), só saímos para comer uma pizza à noite. A pizza argentina é muito gostosa e diferente da brasileira, eles usam uma massa mais espessa e porosa. Também não espere encontrar 40 sabores no cardápio; as opção de pizza são mais tradicionais e seu sabor é garantido pela excelente qualidade do molho de tomate, queijo, e massa.
Dia 19 foi um dia chuvoso, mas mesmo assim seguimos parte do circuito chico da cidade, a rota com as principais atrações da cidade. Pela manhã, fomos à colônia Suiza, que, apesar do nome, mais parecia um reduto hippie com direito à feirinha hippie e muitas áreas de campings. De especial, há alguns restaurantes e confeitarias com chocolates primorosos.
Nesse mesmo dia, visitamos a mini-fábrica da cervejaria Patagônia, que produz todas as bebidas consumidas para o bar local. Foi uma das experiẽncias mais legais da viagem - parada indispensável a todos amantes da boa cerveja! -. Demos uma baita sorte de conseguirmos uma vaga de última hora para visitar a fábrica, o que nos possibilitou também curtir o bar depois do passeio. A entrada no bar é só mediante à reserva, e nesse período de alta-temporada é disputadíssimo. Caso você queira visitá-lo, mantenha-se atento a isso para garantir sua reserva com uns dias de antecedẽncia. O lugar do bar é privilegiado à margem de um lago. O local também conta com uma plantação de lúpulo.
No dia 20 também foi um dia chuvoso, e acordei meio baqueado. Fomos ao museu de chocolate da Havanna com direito a uma visita guiada, mas não achamos interessante. O guia falava super-rápido, atropelando todas as informações. No final, a visita termina na própria loja da Havanna, que tem preços bem salgados.
O sol voltou a reinar no dia 21 em Bariloche. Esse dia subimos de teleférico ao cerro Campanário. A vista lá de cima é uma pintura. De lá, seguimos direto para Vila La Angostura, a cidade mais gourmet que passamos na Argentina - lembra até Gramado/RS -; os preços eram mais caros ainda, e o lugar estava superlotado. Posteriormente seguimos mais 110 km até San Martin de Los Andes, finalmente, margeando os famosos 7 lagos. A vista é de tirar o fôlego, e a estrada conta com vários refúgios e mirantes.
No mesmo dia ainda, sem mais delongas, partimos para nosso último paradeiro: Buenos Aires, a metrópole porteña. Avançarmos um pouco no caminho e dormimos em Piedra del Águila.
Parte 6 - Dia 22 a 24 - A metrópole charmosa - Buenos Aires
No dia seguinte, dia 22 da viagem, fizemos o maior deslocamento da viagem, 1.350 km! Saindo às 5h30 e chegando ao hotel em Buenos Aires às 20 horas.
Pra ser sincero, eu não sabia o que esperar de Buenos Aires. O foco da viagem tinha sido a Patagônia, e praticamente não pesquisei nada de Buenos Aires, que era uma opção facultativa no nosso roteiro. Entretanto, logo de cara, essa metrópole me surpreendeu muito positivamente, e certamente a passagem por ela valeu a pena!
Na chegada à cidade, já me surpreendi com as rodovias largas, muito largas mesmo! Tive a impressão, em um certo momento, de cada lado da pista ter dez faixas, lembrava até aquelas rodovias de filme americano. A estrada estava um tapete ainda, o que agrada o carro e agrada mais ainda o dono =). Do início da zona urbana até chegar ao centro da cidade levou cerca de uma hora. Depois de chegarmos ao hotel, só saímos esse dia para jantarmos em qualquer restaurante perto.
Restaurante na Argentina deve ser uma espécie de capela, porque é sempre um ritual. Não existe refeição rápida. Demora-se pra ser atendido, demora-se pra servir, trazem pão, trazem água, aí espera, trazem a refeição, e se come devagar. Mas, a comida é sempre muito boa; sempre pastas ou carnes. Contudo, confesso que depois de 20 dias de viagem, eu já começava a sentir falta da diversidade da refeição do brasileiro.
Dia 23 da viagem, pela manhã, passamos em alguns pontos do centro da cidade como a casa rosada, um teatro, umas praças, a igreja que o papa Francisco rezava as missas. Infelizmente, muitos lugares não pudemos entrar devido às restrições do Covid. Pela tarde, fomos ao museu de Belas Artes, um lugar fantástico com exposições de pinturas desde a época da idade média (recomendado!). Depois, visitamos a famosa livraria El Ateneo Grand Splendid; ela fica em um antigo teatro, ficamos encantados com a beleza do lugar e quantidades de livros pitorescos. Buenos Aires é uma cidade charmosa com arquitetura clássica e prédios grandiosos; suas ruas são cercadas de verde. Pelo menos, essa foi a imagem que tivemos da parte que conhecemos, o miolo central.
À noite, fomos ainda a uma apresentação de tango com dançarinos e músicos. Quanto drama! Quanto drama! É servido uma refeição antes da apresentação com direito à entrada (sopa), ao prato principal (chorizo), e à sobremesa. Apresentação é linda e é um programa indispensável para quem está conhecendo a capital portenha.
No nosso segundo dia em BSA (dia 24), fomos ao exuberante cemitério dos argentinos ricos. Nunca pensei que eu gostaria de visitar um cemitério, mas até que foi interessante. O cemitério conta com muitas jazidas monumentais e grandiosas; parecia haver uma competição entre as famílias ricas da cidade.
Posteriormente, seguimos para o museu da Evita Perón, essa clássica personalidade argentina que em algum momento ouvimos falar (No Llore Por Mi Argentina); o museu é interessante, recomendo. Em um período de 1 hora, você passa por toda a vida dessa personagem que era uma artista inicialmente, e que depois casou com um dos políticos mais influentes da década de 40. Nessa década, ela tornou-se um expoente das causas sociais e da representação feminina na sociedade; de quebra, ainda lançava tendências de moda. Infelizmente, ela partiu com breves 33 anos.
À tarde, fomos ao café Tortoni, fundado em 1856, é um espaço clássico e me remeteu a cena do restaurante do Titanic rsrs. No fim da noite, passeamos por Puerto Madero.
Dia 25 foi a data de saída do país vizinho. Pela manhã, fizemos quase 700 km de estrada até à cidade fronteiriça de Paso de Los Libres. Lá, aproveitamos para comprar o máximo de vinho que dava rsrs. Trouxemos duas caixas com 6 vinhos cada. Vimos depois que alguns vinhos no Brasil custavam de 3 a 6 vezes mais. Ao final do dia, dormimos em São Vicente do Sul/RS.
E, na metade do dia 26, nosso carnaval patagônico chegou ao fim, quando chegamos em casa após 10.920 km rodados. A volta ao Brasil já foi marcada pelo oceano de radares no ar e o oceano de buracos na estrada. O que me fez indagar se eu teria a mesma paciẽncia de percorrer toda essa distância em estradas tupiniquins.
Impressões Finais
A Patagônia é incrível! Acredito que o fato de irmos de carro, nos ajudou na experiência imersiva, em que pudemos digerir a mudança de cultura e o cenário pouco a pouco pela janela do nosso carro. As montanhas viraram planícies, as árvores viraram arbustos. Se eu pudesse, ficaria 2 meses nesse lugar, e não faltariam coisas bacanas para fazer.
A Argentina é um país legal pra caramba com uma cultura bem diferente da nossa, que vale o ticket de passagem. Talvez menos solícitos que os brasileiros em recepção e tratamentos, mas bem educados. O país tem uma farta quantidade de museus e exposições onde você vai. Achei bacana que muitas vezes estávamos no meio do nada, contando com a presença de um único estabelecimento, e eles mantinham o preço padrão das coisas; situação que no Brasil muitas vezes seria abusivamente explorada.
A Argentina também é um país territorialmente enorme, eu não me lembrava disso. Distâncias patagônicas são sempre centenas de quilômetros. Suas estradas retas e de poucos danos possibilitam fazer uma viagem mais rápida, o que torna mais viável percorrer essas longas distâncias; fora o preço do combustível que era muito barato, entre 2 a 3 reais.
Carnes, massas, coisas de padaria, e vinhos são sensacionais na Argentina. Entretanto, não conte com frutas, verduras e outras variedades usuais no Brasil.
Se eu iria de novo? Ah, mais umas cem vezes pelo menos. El Calafate e El Chaltén ganharam meu coração. Achei Bariloche super-estimado, talvez no inverno seja outra história. Diferentemente, achei a ruta 3 subestimada; a Patagônia dos bichos, Puerto Madryn e redondezas, são excepcionais, mais o caminho margeando o mar até o estreito de Magalhães é de tirar o fôlego. Por fim, Buenos Aires fecha a conta com aquele café providencial para ajudar na digestão.
É isso! Espero que essa história tenha contribuído ou inspirado em algo. Abraços!